LUDUTOPIA

quinta-feira, 2 de abril de 2015

"Inverno de Sombras", de L.C. Lavado

Sinopse:
“Todos ficam sujos de sangue e há sempre alguém que morre.”
Este é o lema de Danton.
Filho de dois poderosos feiticeiros, inimigos de séculos, a existência de Danton é apenas mais um golpe de guerra entre os pais.
Criado e aperfeiçoado por Amauri e Goulart, é temido por todos, incluindo os próprios.
Em Lisboa, uma misteriosa Caixa detém um poder que a família Santa-Bárbara guarda há gerações.
Isadora é a última descendente de uma linhagem de Paladinos, herdeira solitária de um império cultural e um legado que desconhece. Ela e o tio, Garrett, são tudo o que resta para proteger este grande segredo.
Mas Danton está decidido que é chegada a hora do poder da Caixa lhe pertencer, e as vidas dos Santa-Bárbara vão alterar-se para sempre.
Feitiçaria, magia, segredos e uma história de amor inesquecível, percorrem alguns dos lugares mais conhecidos de Lisboa e a zona mais sinistra de Paris.
O passado colide com o presente e tudo acontece… mas não como todos esperam.
Opinião:
Inverno de Sombras foi o primeiro livro que li da portuguesa Liliana Lavado e a experiência foi um pouco agridoce. A forma como a história é apresentada demonstra que a autora pensou sobre ela e soube, desde logo, o que pretendia contar. Todo o desenrolar do enredo está bem estruturado e todos os capítulos, apesar de alguns serem demasiado pequenos, são úteis para compreender toda a ação.

O que me fez ficar ansioso para terminar de ler o livro, não pelos bons motivos, foi o facto da história em si ser um pouco cliché. Esperei sempre pelo grande momento que me fizesse ficar de queixo caído e não apareceu. Contudo, a história tem algumas surpresas, porque a autora tem a capacidade de apresentar o enredo aos poucos e os segredos vão-se revelando quando o leitor menos espera. Sem dúvida que isso se notou quando se descobre a verdade de Pierre e Danton, apesar de ter ficado um pouco confuso em como o personagem se dividiu em dois, sendo Danton mago e o seu “gémeo” humano. Não deveriam ser os dois magos, já que o original o é? A história da Caixa também podia ter sido trabalhada de outra forma. Pareceu-me forçado a Andrea se ter lembrado dela dois anos depois só porque falam de uma caixa. Caixas há muitas!

Outro ponto que me fez ficar reticente quanto ao enredo, foram as personagens. Não consegui criar empatia com nenhuma e não me afetou a morte de outras. Penso que isso se ficou a dever ao facto das personagens serem descritas de forma estereotipada. A protagonista, Isadora, é uma rapariga certinha, virgem, de olhos azuis e cabelo ruivo. A melhor amiga, Andrea, é loira, rica, viciada em compras e vivida. O vilão, Danton (que teimei em chamá-lo sempre de Damon), que acaba por ser o interesse amoroso da protagonista, tem braços masculinos, olhos verdes e despreza as mulheres. Todas as personagens são belas e sensuais. Meu deus, quem me dera ser um personagem da Liliana!

O interesse amoroso da protagonista pelo vilão é no mínimo irrisório, apesar de se saber que ela se apaixonou inicialmente pelo Pierre e eles são a mesma pessoa. Sendo assim, a atração física que ela sentiu pelo Danton é compreensível. A partir do momento em que ele lhe dá uma bofetada, manda torturar o tio dela, causando a morte do mesmo, pretende entregar a Andrea ao inimigo, não consigo entender o porquê de Isadora continuar fascinada por ele. Onde está o amor-próprio da personagem? O mais caricato é que ela perde a virgindade com ele e ainda lhe diz que o ama! Para além disso, ainda há a relação da melhor amiga com o Maximilian, um rapaz pobre que também não tem amor-próprio e é usado como taxista. Foi interessante entender como é que a Andrea se apercebeu que estava apaixonada por ele. O desenvolvimento desse núcleo estava a correr bem, até os pais da rapariga descobrirem o namoro. Ricos, divorciados, tentaram alerta-la dizendo que o rapaz não era o homem ideal para ela. Com as pequenas surpresas que a autora nos presenteou, pensei que o motivo desse aviso fosse que, como ela não é humana, não seria saudável envolver-se com um. Todavia, essa não foi a razão das discussões familiares, mas sim o fator financeiro do pobre Maximilian. Entendo que os pais desconheciam a verdadeira natureza da filha, mas a autora podia ter sido mais original. Cliché!

Porém, apesar do que foi citado, o livro tem aspetos positivos. A escrita da autora é acessível e agradável. Os capítulos como são pequenos não se tornam enfadonhos. Adorei as descrições das verdadeiras formas dos feiticeiros e magos. Ponto positivo para o facto das personagens das duas Casas de Magia de Paris terem formas diferentes e não serem todos uniformizados; os Amauri são répteis e os Goulart fantasmas. É de valorizar também as várias referências cinematográficas citadas ao longo da obra.

A editora Marcador fez um excelente trabalho de edição. A capa é das mais bonitas que já vi e torna-se ainda mais quando sentimos o relevo do título. Todos os elementos presentes na capa fazem sentido e são apelativos, desde a ponte 25 de abril, já que grande parte da história se passa em Lisboa, à excelente estratégia de marketing com o símbolo cinco estrelas do site goodreads.

O livro terminou com um final em aberto, pelo menos em relação a duas personagens. Não sei se haverá continuação, mas se houver não pretendo ler. Contudo, volto a frisar que a escrita da Liliana é cativante, apesar da história não o ser e, por isso, atribuo 3 de 5 cravos.


Classificação:

Sem comentários:

Enviar um comentário